Vivemos um momento fantástico da história da Terra. O intelecto humano foi capaz de desenvolver nestes últimos 2 séculos, mais tecnologia do que em todos os outros milênios de jornada no planeta somados em um todo. Muito do que surgiu na mente humana a tempos atrás como remota ficção, hoje se tornou realidade: a capacidade de viajar pelo espaço; de acessar esconderijos do corpo com sondas capazes de filmar e fotografar a fisiologia humana; telescópios e microscópios de superpotência desvendando os mistérios da origem da vida no Universo; fontes de energia das mais diversas naturezas.
Concomitantemente, testemunhamos a destruição da vida em dimensões que nossos ancestrais jamais vislumbraram na história. É claro que houveram momentos críticos de destruição, como na construção de antigos impérios e em grandes guerras do passado, em tempos de pragas, pestes e fome; no entanto, nunca a vida na terra esteve ameaçada em escala global, pondo em risco até mesmo o plâncton que produz o oxigênio dos mares.
A questão é que, para atingir seus fins comerciais e mercantilistas, nossa atual civilização humana não mensurou o impacto dos meios dos quais se valeu para trazer à tona tamanho ‘desenvolvimento’. O ecofilósofo norueguês, Sigmund Kwaloy, nomeou este período histórico no qual vivemos de ‘Sociedade de Crescimento Industrial’. Dentro desta sociedade, a Terra é tida como uma grande fonte matéria prima para a produção de bens de consumo, e ao mesmo tempo um depositário de todos os excedentes residuais desta produção. O corpo do planeta é escavado e transformado em mercadorias vendáveis e envenenado com subprodutos industriais.
Opção por um mundo sustentável

1. Ações em defesa da vida na Terra
São as atividades mais ‘visíveis’ da Grande Virada. Incluem todo o trabalho político, legislativo e jurídico necessário para reduzir a destruição, bem como ações diretas – bloqueios, boicotes, desobediência civil e outras formas de protesto. É a estância mais exaustiva do processo, um trabalho heróico, sob os holofotes da mídia, ameaças e agressões contra ativistas, falta de verbas, batalhas judiciais perdidas, etc. Este trabalho nos ajuda a ganhar tempo, salva algumas vidas e alguns ecossistemas, espécies e culturas... mas não é suficiente para fazer com que a nova sociedade surja.
2. Análises de causas estruturais e criação de instituições alternativas
Precisamos compreender claramente as dinâmicas da Sociedade de Crescimento Industrial para que possamos elaborar estratégias viáveis para substituí-la pela Sociedade de Sustentação da Vida. Nesta esfera de ação, trazemos ao conhecimento público - por meio de palestras, workshops, seminários - os mecanismos que permeiam os bastidores da economia global, desmistificando as crenças que sustentam estes paradigmas de consumo desenfreado e oferecendo informações sobre seu real impacto sobre o planeta e as futuras gerações. Afinal de contas, é a própria população quem sustenta este mercantilismo e ela mesma é quem pode dar conta de o transformar, a partir de um sistema educativo que apresente soluções práticas que possam ser suplantadas para a mudança da consciência global e dos hábitos de consumo.
3. Mudanças na percepção da realidade em termos cognitivos e espirituais
As novas instituições que vêm surgindo como fruto da Grande Virada só poderão subsistir se houver uma profunda mudança no modo como o senso comum percebe a realidade – seja a realidade num sentido ontológico assim como no sentido da percepção da totalidade que envolve cada ser. Muitos ‘insights’ desta percepção tem contribuído para a abertura consciencial de inúmeras pessoas e até mesmo de organizações. Teorias como a física quântica, a astrofísica e a teoria dos sistemas vivos que hoje permeiam as ciências, a filosofia e as artes têm contribuído para que a mente humana avance além dos paradigmáticos preceitos materialistas e reducionistas construídos nos últimos dois séculos de descobertas científicas e da revolução industrial. Neste salto, o ser humano começa a retomar a percepção de si mesmo como parte de um Todo, a resgatar a sabedoria dos povos nativos, a mística das antigas religiões e as canções dos ancestrais que celebram a unidade sagrada do homem e da Natureza, lembrando que estar vivo é em si uma missão.
Chegamos a um período de confluência de três rios – a angústia por nosso mundo, os avanços científicos e os ensinamentos ancestrais – diz Joanna Macy, ecologista da Grande Virada – e bebemos desta água. Despertamos para aquilo que antes sabíamos: estamos vivos num planeta vivo, fonte de tudo o que somos e podemos realizar.
Organizado por Rogério Meggiolaro – Satyavan
rogeriomgs@gmail.com
www.neohumanismo.org
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